Jane Austen e Melville no mundo da IA
A Inteligência Artificial na escrita, na literatura e no mercado editorial
Na semana que passou, os britânicos descobriram que podem “conversar” com Elizabeth Bennet, personagem de Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. Ainda na seara da ficção, a ferramenta de detecção ZeroGPT acha que o início de Moby Dick, de Herman Melville, foi escrito usando IA generativa. No cinema, os cineastas norte-americanos da Archival Producers propuseram suas diretrizes para o uso de IA na produção de documentários. E, no Brasil, as bibliotecas públicas de Parelheiros, bairro da periferia de São Paulo, estão usando a IA para promover a inclusão de jovens leitores. E mais um bom cardápio do que vem sendo pensado mundo afora em relação ao uso da IA na escrita, no ensino e na tradução.
Notícias da semana
Na Inglaterra, a Universidade de Artes Criativas, em Surrey, e a empresa de IA StarPal criaram um avatar interativo de Elizabeth Bennet, personagem de Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. Chamado de Lizzy, o chatbot é capaz de ter conversas em tempo real – o que pode ser conferido pelos fãs no Learning Centre, na Jane Austen's House em Alton, Hampshire. No Yahoo News
Mahnoor Faisal mostra os furos que as ferramentas de detecção como o ZeroGPT comete. Entre eles, está o de atribuir 88,24% de chance de a abertura de Moby Dick, de Herman Melville, ter sido escrito por IA. Eu testei, e é verdade. Não acuso mais ninguém baseado na ferramenta. No Make Use Of
Diretrizes para uso de IA em documentários. A norte-americana Archival Producers Alliance desenvolveu suas diretrizes para uso de IA em documentários, identificando quatro pontos principais que os cineastas devem considerar: valor das fontes primárias, transparência, implicações legais e considerações éticas. Na PBS
Uma pesquisa preliminar, publicado no repositório de preprints de artigos científicos arXiv, detectou que um gerador de ideias alimentado por IA produziu mais ideias de pesquisa originais do que 50 cientistas trabalhando independentemente. Mas os próprios autores afirmam que o estudo tem limitações. Na Nature
IA chega às bibliotecas comunitárias de Parelheiros. Vicente Vilardaga conta como as cinco bibliotecas comunitárias no bairro periférico de São Paulo estão usando a IA para promover a inclusão digital de jovens leitores. Na Folha de S.Paulo
Relatório mostra que o mercado global de assistentes de escrita por IA foi avaliado em US$ 1,7 bilhão em 2023. A expectativa é que, até 2032, esse valor chegue a US$ 12,3 bilhões. No do Global Market Insights.
Depois da Taylor & Francis, da Routledge e da Wiley licenciarem o conteúdo de seus autores para empresas de IA, a editora acadêmica Sage afirmou que está considerando fazer o mesmo, acrescentando que isso é preferível do que ter os textos coletados ilegalmente. No The Bookseller
Caixa de ferramentas
Do nicho do nicho surge o SpeechyAI, uma ferramenta que promete escrever discursos de casamento – incluindo noivos, padrinhos, pais e quem mais for convocado a falar. Custa £ 49, bem abaixo, naturalmente, dos £ 495 cobrados pelo serviço personalizado e humano de redação oferecido pela própria plataforma. No Journalism.co.uk
Inteligência humana
Os algoritmos e os LLMs estão mudando nossa concepção de literatura? "Não acho que os LLMs terão um impacto real na literatura ", diz Marcello Vitali-Rosati, professor da Universidade de Montreal, ouvido por Virginie Soffer. “Não digo não terá efeito, mas não será de uma ordem diferente do impacto de qualquer outro dispositivo tecnológico usado para escrever." No Phys Org
A voz desumana da IA. “Quão sufocados serão a criatividade e o pensamento crítico quando uma muleta for uma parte inevitável da vida cotidiana?", pergunta Rachel Hoarau a partir da sua experiência com o ChatGPT. No The Rocket
ChatGPT vs. Escritores humanos: por que pode custar mais do que você imagina. Jennifer Jay Palumbo diz o óbvio: que a escolha entre um e outros passa pela exigência de qualidade que as empresas têm em relação ao texto. “Investir em uma boa escrita pode se tornar a arma secreta mais bem guardada do seu negócio em um mundo de tudo gerado por IA.” Na Forbes
One Piece por IA. Eiichiro Oda, criador do mangá One Piece, decidiu usar IA para criar uma história, mas os resultados foram “decepcionantes e assustadores”. No FandomWire
IA e Humanidades. Professores da área de Humanas de Delaware contam como estão usando a IA generativa, que, segundo alguns, pode apresentar “novas oportunidades para aumentar a curiosidade, a criatividade e a compreensão cultural”. No UDaily
Para ensinar os alunos a usar a IA, ensine filosofia. Adam Zweber diz que há muito em comum entre uma e outra. “A filosofia nos ensina a fazer perguntas melhores", escreve. No Inside Higher Ed
Usando IA para economizar tempo e aliviar a carga de trabalho. Os professores Meghan Hargrave, Douglas Fisher e Nancy Frey dão dicas para o uso da IA generativa na educação. No Language Magazine
Experimentos com ChatGPT: Por que a inteligência artificial não pode substituir a criatividade humana. Em um longo texto, a editora Linda Huang conta como testou a IA generativa no processo de criação da capa para o livro Searches, de Vauhini Vara. No Literary Hub
Aqui, ali e em todo lugar: conversas com tradutores de livros infantis. Vários tradutores falam, entre outros assuntos, do impacto da IA no futuro do ofício. No Publishers Weekly
A IA eliminará muitos empregos humanos? Reportagem de Paul Wiseman, escrita originalmente para a Associated Press, retoma o tema de sempre. No VOA Learning English. A mesma pergunta, focada em criação de conteúdo, é feita por Andreea Bădoiu no romeno Panorama.
O direito da IA de copiar. Katherine Abraham escreve uma longa reportagem discutindo o cerne da questão dos direitos autorais hoje. No India Business Law Journal